College Station: Onde a lealdade se aprende no berço
Se você perguntar a qualquer torcedor de college football qual programa tem uma das torcidas mais fanáticas e organizadas da NCAA, o nome Texas A&M surgirá quase imediatamente. Localizada em College Station, Texas, a universidade abriga o programa dos Aggies, uma força que combina tradição militar, paixão universitária e uma infraestrutura que rivaliza com a da NFL.
Mais do que um time, Texas A&M é uma comunidade de valores compartilhados, onde conceitos como disciplina, orgulho institucional e espírito de corpo definem cada aspecto do programa. O 12th Man nome dado à torcida dos Aggies, não é apenas um grito de guerra. É parte da identidade da universidade, que valoriza o comprometimento dos seus torcedores como se fossem parte ativa do elenco.
Essa cultura, aliada a investimentos bilionários, transformou o programa em um dos mais intrigantes do futebol universitário moderno. E, agora como membro consolidado da SEC, Texas A&M quer mais do que visibilidade, quer troféus.
O 12th Man: Mais do que uma metáfora
Na maioria dos estádios, o termo “12th Man” é uma forma simbólica de reconhecer a torcida. Em Texas A&M, é literal. A tradição nasceu em 1922, quando um jogador reserva das arquibancadas foi chamado para vestir o uniforme e ficar à disposição em campo. Desde então, a universidade abraçou esse espírito de prontidão, comprometimento e lealdade total.
No Kyle Field, com capacidade para mais de 102 mil torcedores, o impacto do 12th Man é real. A torcida não senta. Ela permanece de pé durante os quatro quartos do jogo, cantando, batendo palmas e participando das chamadas coreografadas dos “Yell Leaders”, figuras históricas que substituem as cheerleaders em uma tradição exclusivamente Aggie.
Para quem visita College Station pela primeira vez, o ambiente parece quase militar e é proposital. A universidade tem origens em um colégio agrícola com formação militar, e esse legado se reflete até hoje na maneira como a torcida age, pensa e apoia.
Infraestrutura de primeira classe (ou de liga profissional)
Texas A&M é, simplesmente, um dos programas mais bem financiados da história do college football. Com um fundo de doações que ultrapassa bilhões de dólares, um estádio remodelado que custou US$ 485 milhões, instalações de treino dignas de franquias da NFL e contratos milionários com redes de TV e patrocinadores, o programa tem todos os recursos para competir no topo.
Em termos de estrutura, a universidade oferece aos seus atletas campos de treinamento climatizados, salas de recuperação de última geração, nutrição personalizada, apartamentos de alto padrão e acesso total a tecnologias de performance.
Esse nível de investimento transformou Texas A&M em um dos destinos mais desejados por recrutas e transferências, especialmente agora com o NIL (Name, Image and Likeness) em pleno funcionamento. O programa se adaptou rapidamente à nova era, criando condições favoráveis para que os atletas possam construir sua marca pessoal com suporte institucional.
A rivalidade com Texas: Separação, retorno e tensão no ar
Por muito tempo, Texas A&M e Texas Longhorns formaram a maior rivalidade do estado. Mas, com a mudança de A&M para a SEC em 2012 e a permanência de Texas na Big 12, o clássico foi interrompido para o desespero de torcedores dos dois lados.
Agora, com Texas na SEC, a rivalidade está de volta. E ela promete retomar toda a tensão dos anos passados.
A animosidade acumulada, o contraste entre culturas (Austin mais liberal e urbana, College Station mais conservadora e institucional), e a longa espera por esse confronto prometem transformar a renovação do clássico em um dos eventos mais aguardados da temporada.
Mais do que um jogo, será uma batalha por território, por orgulho e por narrativa. E Texas A&M quer provar que construiu, nesses anos de SEC, uma base mais sólida do que o rival histórico.
O experimento Jimbo Fisher e sua queda
Em 2018, Texas A&M fez uma das maiores apostas da história do college football, ofereceu um contrato de 10 anos e US$ 75 milhões totalmente garantidos ao técnico Jimbo Fisher, campeão nacional com Florida State.
A chegada de Jimbo foi tratada como o marco zero de uma nova era, o momento em que os Aggies deixariam de ser promissores e se tornariam potentes.
Nos primeiros anos, os resultados foram razoáveis. Em 2020, A&M teve uma temporada de 9 vitórias e 1 derrota, sendo o time que ficou de fora do College Football Playoff por uma margem estreita.
Mas as temporadas seguintes foram marcadas por inconsistência, frustrações ofensivas, e derrotas inesperadas, mesmo com classes de recrutamento entre as melhores do país, incluindo, em 2022, a classe considerada a mais talentosa da era moderna, segundo rankings de analistas.
Em 2023, após nova campanha decepcionante, a direção da universidade decidiu encerrar o contrato com Fisher, mesmo arcando com uma das maiores multas rescisórias da história do esporte universitário, cerca de US$ 77 milhões.
O recado foi claro, Texas A&M está disposta a pagar qualquer preço por grandeza.
A nova fase com Mike Elko: Pragmatismo, reconstrução e identidade
Para substituir Fisher, a universidade contratou Mike Elko, ex-coordenador defensivo dos próprios Aggies e, mais recentemente, técnico de Duke, onde realizou um trabalho consistente. Elko chega com uma proposta mais pragmática, reconstruir a base, fortalecer a defesa, controlar o relógio e restaurar uma identidade clara ao programa.
Diferente da pompa que cercou a chegada de Jimbo, a contratação de Elko foi recebida com uma dose de cautela, mas também com alívio. A torcida e os analistas reconhecem que, mais do que nomes de peso, o que A&M precisa agora é consistência técnica e liderança estável.
Com um elenco talentoso, uma estrutura de elite e uma SEC mais desafiadora do que nunca, Elko tem em mãos uma oportunidade rara, transformar um dos programas mais sedentos por sucesso em uma máquina real de competir por títulos.
O peso das expectativas
Texas A&M é um programa onde tudo parece estar pronto, exceto os troféus. O investimento já foi feito. A base de fãs está mobilizada. A estrutura está entre as melhores. O estádio é imponente. A conferência é a mais prestigiada. E, mesmo assim, o troféu da SEC nunca foi conquistado desde a entrada da universidade na conferência.
Isso torna cada temporada uma mistura de esperança e tensão. Os Aggies não querem mais ser apenas promessas. Querem títulos. Querem vencer Alabama e Georgia. Querem playoff. Querem o palco final.
E, a cada ano, a sensação é de que esse momento está ao alcance, mas sempre escapando por pouco.
O futuro: Ainda um gigante à espera do despertar definitivo
O que vem a seguir para Texas A&M é uma nova tentativa de alinhar todas as suas forças. A universidade tem, talvez, o maior potencial adormecido do college football atual. E isso faz com que todos fãs, rivais, mídia, olhem para College Station com a mesma pergunta: vai acontecer agora?
Se Elko conseguir canalizar a paixão do 12th Man, explorar a força financeira da instituição e estabelecer uma identidade duradoura, os Aggies têm tudo para transformar o potencial em realidade.
E quando isso acontecer, se acontecer, o barulho vindo do Kyle Field não será ignorado por ninguém.
No próximo capítulo da série “Conheça os Programas”, viajaremos até Columbia para conhecer os South Carolina Gamecocks, um programa que vem ganhando relevância nos últimos anos e cuja torcida apaixonada acredita que o futuro pode, enfim, ser promissor.