Os Tennessee Volunteers são, em essência, um programa de extremos. Ao longo das décadas, viveram altos gloriosos e quedas abruptas, mas uma coisa jamais mudou, o tamanho de sua torcida e a força da sua identidade.
Localizado em Knoxville, no coração do leste do Tennessee, o programa da University of Tennessee (UT) é um dos mais antigos, icônicos e apaixonadamente seguidos do college football.
Tradição, orgulho e renascimento
Durante muito tempo, os Vols foram referência de competitividade e sucesso dentro da SEC, especialmente nas décadas de 1980 e 1990.
Mas após anos de instabilidade, o que define o momento atual da universidade é o mais puro simbolismo esportivo: a ressurreição.
Tennessee está de volta com estádio lotado, ataque veloz, camisa pesada e um novo brilho nos olhos. E não é apenas uma retomada simbólica. É real, palpável e ameaçadora para os gigantes da conferência.
Neyland Stadium: O templo laranja
Poucos lugares representam com tanta fidelidade a alma do seu time quanto o Neyland Stadium representa os Volunteers.
Com capacidade para mais de 101 mil torcedores, o estádio às margens do rio Tennessee se transforma em uma massa laranja vibrante a cada sábado.
É difícil descrever o que significa um jogo em casa em Knoxville, é barulho, é paixão, é tradição cantada em coro com “Rocky Top”, um dos hinos não-oficiais mais conhecidos do esporte universitário.
A torcida de Tennessee é uma das mais leais e resilientes do país. Mesmo em anos de resultados fracos, o Neyland continuava lotado.
Quando o sucesso voltou, o estádio virou um dos ambientes mais intimidadores da NCAA. E hoje, ele pulsa com a certeza de que o melhor ainda está por vir.
O legado de Peyton Manning e a busca por uma nova era
Nenhuma figura representa melhor o prestígio do Tennessee do que Peyton Manning.
O lendário quarterback, antes de se tornar ídolo da NFL, foi o rosto do programa entre 1994 e 1997.
Sua liderança, inteligência de jogo e conexão com a universidade o tornaram um embaixador eterno dos Vols.
Mesmo sem conquistar um título nacional enquanto esteve em campo, Manning ajudou a restaurar o respeito pelo programa e a elevar o padrão competitivo da universidade.
O título nacional de fato veio logo depois, em 1998, sob o comando de Phillip Fulmer, com Tee Martin como quarterback.
Aquela campanha marcou a última vez que Tennessee esteve no topo do país e desde então, o programa viveu uma montanha-russa emocional de tentativas de retorno à glória.
A década perdida: Instabilidade e frustrações
A virada dos anos 2000 para os anos 2010 não foi gentil com Tennessee. Entre 2009 e 2020, a universidade teve cinco técnicos diferentes, campanhas irregulares, escândalos internos e resultados desanimadores.
A instabilidade afetou o recrutamento, a confiança dos torcedores e o prestígio da universidade frente à concorrência cada vez mais agressiva dentro da SEC.
Enquanto rivais como Alabama, Georgia e LSU empilhavam vitórias e títulos, Tennessee parecia preso em um ciclo de promessas não cumpridas.
Mesmo assim, a estrutura permanecia forte. A base de fãs resistia. O Neyland continuava sendo um estádio temido. Faltava apenas a faísca que reacendesse o motor.
Josh Heupel e a volta da esperança
Essa faísca apareceu em 2021 com a chegada do técnico Josh Heupel, vindo da UCF. Com um estilo ofensivo acelerado, criativo e corajoso, Heupel imediatamente deu nova identidade aos Vols.
Sua abordagem ofensiva que mistura RPOs, velocidade no snap e aproveitamento vertical, devolveu a emoção aos jogos e trouxe de volta a sensação de que Tennessee podia vencer qualquer um, a qualquer momento.
Em 2022, Tennessee viveu sua melhor temporada em duas décadas. A vitória sobre Alabama em Knoxville, encerrando um jejum de 15 anos no clássico, virou um dos momentos mais marcantes da história recente da SEC.
O campo tomado pela torcida, os cigarros de celebração, os vídeos virais, tudo simbolizou não apenas uma vitória, mas a volta de Tennessee à conversa nacional.
A equipe terminou o ano com 11 vitórias, incluindo um triunfo no Orange Bowl sobre Clemson. Foi uma declaração de intenções. Os Vols estavam de volta, não como coadjuvantes nostálgicos, mas como protagonistas dispostos a brigar com os gigantes.
Recrutamento, cultura e o desafio da continuidade
O sucesso recente reacendeu a chama do recrutamento. A camisa de Tennessee voltou a ser cobiçada, o estádio virou argumento em visitas oficiais, e o estilo ofensivo de Heupel passou a atrair quarterbacks e recebedores talentosos.
A universidade soube também se adaptar ao novo cenário do NIL (direito de imagem), oferecendo estrutura, visibilidade e mercado para os atletas explorarem sua marca pessoal.
Mas com o sucesso vêm as expectativas. E manter o padrão será um dos grandes desafios da atual gestão. A SEC está mais competitiva do que nunca, com a entrada de Texas e Oklahoma e o fortalecimento constante de potências como Georgia e Alabama.
Tennessee terá que encontrar o equilíbrio entre inovação ofensiva e consistência defensiva para se manter relevante no longo prazo.
Rocky Top: mais do que uma música, um estado de espírito
A música “Rocky Top”, entoada dezenas de vezes por jogo, virou sinônimo da experiência de torcer pelos Volunteers. Mais do que um símbolo sonoro, ela expressa o espírito da torcida, barulhenta, orgulhosa, resiliente.
Não é raro que torcedores de Tennessee se autodenominem "os mais fiéis da América", e os números não mentem, mesmo em temporadas difíceis, o Neyland Stadium figura entre os estádios mais cheios da NCAA.
O programa agora vive uma era de esperança sólida. Não se trata mais de nostalgia, mas de construção real. Tennessee finalmente encontrou um técnico com identidade clara, um elenco comprometido e uma torcida que jamais abandonou. Os ingredientes estão no lugar. Resta ver até onde o Rocky Top pode escalar.
No próximo capítulo da série “Conheça os Programas”, desembarcamos em Austin para falar do Texas Longhorns, o gigante adormecido que voltou a rugir e agora estreia em grande estilo na SEC, com tradição, dinheiro e uma ambição que não cabe dentro do Texas Memorial Stadium.