Se existe um ponto de partida para o futebol americano universitário, ele está em Piscataway, Nova Jersey. Foi ali, em 1869, que o programa de Rutgers disputou o primeiro jogo oficial de college football da história, contra Princeton. Mais de 150 anos depois, os Scarlet Knights continuam lutando, agora, não mais para inventar o esporte, mas para conquistar relevância em meio aos gigantes da Big Ten.
Rutgers tem tradição, uma localização estratégica e um passado respeitável, mas também enfrenta uma missão árdua, provar que pode competir em alto nível no cenário mais exigente do college football moderno.
1869: o nascimento do esporte
No dia 6 de novembro de 1869, Rutgers venceu Princeton por 6 a 4 em um jogo disputado com regras mais próximas do rugby do que do futebol atual. Ainda assim, é oficialmente reconhecido como o primeiro jogo da história do college football.
A universidade, fundada em 1766, é uma das mais antigas dos EUA, e ostenta com orgulho o título de “Birthplace of College Football” (Berço do Futebol Americano Universitário). Essa partida inaugural está eternizada no campus, com placas e estátuas em homenagem ao evento, um símbolo importante da identidade Rutgers.
Um século à sombra dos grandes
Apesar da importância histórica, Rutgers passou a maior parte de sua existência no futebol universitário como programa de médio porte, competitiva em momentos esporádicos, mas longe dos holofotes das grandes conferências.
Durante o século XX, os Scarlet Knights jogaram principalmente como independentes ou em conferências menores (como a Big East, mais tarde dissolvida), com campanhas modestas e raras aparições em bowls. O programa manteve sua relevância regional, mas nunca teve real impacto nacional.
A era Greg Schiano (parte 1): o salto competitivo
Tudo começou a mudar com a chegada de Greg Schiano em 2001. Herdando um time fragilizado, Schiano transformou Rutgers em uma equipe respeitada, física e disciplinada. Seu trabalho culminou em uma temporada histórica em 2006, quando o time terminou 11-2 e venceu o nº3 Louisville, com direito a uma das viradas mais memoráveis da era moderna.
Aquela campanha, liderada pelo running back Ray Rice, colocou Rutgers no Top 10 nacional e deu ao programa sua primeira grande visibilidade no século XXI. Sob Schiano, Rutgers chegou a disputar seis bowl games consecutivos (2005-2011), uma façanha inédita para a universidade.
A entrada na Big Ten: mais estrutura, mais desafio
Em 2014, Rutgers se uniu à Big Ten Conference, uma das movimentações mais ambiciosas (e polêmicas) da era de realinhamento das conferências. O objetivo da conferência era claro, conquistar o mercado de mídia da região de Nova York e expandir sua marca para a costa leste dos EUA.
Para Rutgers, o convite significava acesso a novos recursos, maiores receitas, visibilidade nacional e a chance de competir com as maiores universidades do país. Mas o custo foi alto. As diferenças estruturais, atléticas e históricas entre Rutgers e potências como Ohio State, Michigan e Penn State ficaram evidentes desde o início.
Entre 2014 e 2019, os Scarlet Knights sofreram inúmeras derrotas por larga margem, acumulando campanhas de 1-11, 2-10, e períodos de instabilidade interna.
A era Schiano (parte 2): reconstrução e cultura
Em 2020, Greg Schiano retornou ao comando, determinado a retomar o trabalho iniciado duas décadas antes. Mais experiente e respaldado por recursos maiores, Schiano adotou uma estratégia centrada em três pilares:
1. Recrutamento local: explorar o talento do “DMV” (D.C., Maryland, Virginia) e do estado de Nova Jersey, que produz ótimos atletas, mas é constantemente pilhado por programas de fora.
2. Disciplina tática: defesa sólida, times especiais consistentes e ataque controlado.
3. Identidade cultural: orgulho local, mentalidade de resistência e reconstrução passo a passo.
Os resultados começaram a aparecer, em 2021, Rutgers foi convidado para o Gator Bowl, após uma temporada sólida. Em 2023, a equipe finalizou 7-6 com vitória sobre Miami (OH) no Pinstripe Bowl, disputado no Yankee Stadium, mostrando evolução e equilíbrio competitivo.
A identidade dos Scarlet Knights
O mascote de Rutgers é o Cavaleiro Escarlate, representando bravura, honra e tradição. O vermelho vibrante é a cor que une torcedores, jogadores e estudantes de um dos maiores sistemas universitários públicos dos EUA.
O time manda seus jogos no SHI Stadium, com capacidade para 52 mil torcedores. Embora não seja dos mais intimidadores da conferência, o estádio é palco de uma torcida resiliente e que tem visto crescimento nos últimos anos, à medida que o time volta a ser competitivo.
Um programa com potencial escondido
A localização de Rutgers é uma de suas maiores armas, estando a menos de uma hora de Manhattan, o programa está inserido no maior mercado de mídia do país. Além disso, o estado de Nova Jersey e seus arredores produzem atletas de alto nível, especialmente defensores e skill players.
O desafio é convencer esses talentos a ficarem em casa, resistindo às ofertas de programas como Penn State, Ohio State, Michigan e Clemson. Mas, com bons resultados e consistência, Rutgers pode transformar esse terreno fértil em sua base.
A Big Ten está crescendo e mudando. E Rutgers, mais uma vez, quer estar no começo de uma nova era como esteve no início do esporte.
Por que torcer pelos Scarlet Knights?
Torcer pelos Scarlet Knights é apoiar o primeiro time da história do college football, um verdadeiro pioneiro do esporte universitário nos Estados Unidos.
Com um mascote e nome únicos, o Cavaleiro Escarlate simboliza resistência e tradição. A equipe protagoniza uma das histórias de reconstrução mais interessantes da última década, marcada por superação e crescimento constante.
Localizados em uma região estratégica, os Scarlet Knights representam o time do metrô de Nova York, com fácil acesso a uma das maiores metrópoles do mundo.
A volta do técnico Greg Schiano trouxe de volta uma cultura baseada em defesa sólida e disciplina rigorosa, pilares da identidade da equipe.