Falar de LSU Tigers é falar de paixão em estado bruto. É impossível entender o college football do Sul dos Estados Unidos sem passar por Baton Rouge, capital da Louisiana, onde a atmosfera dos jogos da Louisiana State University transforma o campus em um dos palcos mais intensos e reverenciados da NCAA. Ali, o futebol universitário transcende o esporte, é identidade, é cultura, é orgulho regional.
LSU é diferente. É visceral. Suas vitórias não são apenas celebradas; são vividas com intensidade. Suas derrotas, sentidas como tragédias coletivas. O roxo e dourado do uniforme não são só cores, são símbolos de uma comunidade que canta, grita, dança e vibra como nenhuma outra. E no centro de tudo isso está o Tiger Stadium, ou, como é conhecido com temor e reverência por todos os que acompanham o esporte, O Death Valley.
Death Valley: onde os sonhos morrem
Poucos lugares no futebol universitário impõem tanto respeito quanto o Tiger Stadium em um jogo noturno. Com capacidade para mais de 102 mil pessoas, o estádio pulsa como um organismo vivo. Os jogos em Saturday Night in Death Valley são lendários.
A acústica ensurdecedora, alimentada por um público que chega cedo, bebe cerveja quente sob o calor úmido da Louisiana e canta “Callin’ Baton Rouge” até perder a voz, cria um dos ambientes mais hostis para qualquer adversário.
Grandes times ruíram ali. Quarterbacks consagrados se perderam no barulho. Técnicos veteranos tiveram que usar placas para se comunicar com os jogadores em meio ao caos. Jogar em Baton Rouge não é apenas difícil, é uma experiência que testa a mente e o físico de qualquer equipe visitante.
Mas o Death Valley também é lar. Para os torcedores dos Tigers, é um santuário. Cada entrada do time no campo é uma cerimônia. Cada touchdown, uma explosão. Cada vitória, um capítulo a mais em uma narrativa que mistura esporte, folclore e fé.
2019: a temporada dos sonhos
Se Alabama é o padrão e Georgia o novo império, LSU é a lembrança constante de que, mesmo em um ambiente altamente competitivo, a perfeição ainda é possível. E ela aconteceu em 2019.
Naquela temporada, sob o comando do carismático técnico Ed Orgeron, LSU protagonizou uma das campanhas mais dominantes da história do college football. Com um ataque moderno, veloz e impiedoso, liderado por Joe Burrow, o time passou por cima de adversários como Alabama, Georgia, Oklahoma e, por fim, Clemson na final nacional.
Foram 15 vitórias em 15 jogos, 726 pontos marcados e uma coleção de atuações históricas. Joe Burrow teve uma das temporadas mais espetaculares que um quarterback já teve no nível universitário, 60 touchdowns, 5.671 jardas, o Heisman Trophy e a idolatria eterna em Baton Rouge.
Aquela equipe era mais do que Burrow. Era Ja’Marr Chase, Justin Jefferson, Clyde Edwards-Helaire, Derrick Stingley Jr., e uma linha ofensiva dominante. Era um grupo que personificava o talento bruto da região sulista dos Estados Unidos lapidado ao extremo. O LSU de 2019 não apenas venceu. Ele encantou.
Cultura Cajun e futebol como extensão da alma
Parte do charme do LSU Tigers está enraizado na cultura da Louisiana. A universidade é um espelho do estado, diverso, musical, quente e barulhento.
A mistura da herança francesa, africana e americana cria uma atmosfera única no país. Isso se reflete nos tailgates com gumbo, jambalaya e música ao vivo. Na presença marcante da banda Golden Band from Tigerland. Nos gritos que ecoam desde o campus até o rio Mississippi.
O orgulho regional é quase tribal. Torcer para LSU é se declarar defensor de uma identidade cultural. É comum que famílias inteiras, de gerações diferentes, tenham se formado na universidade. A camisa roxa com detalhes dourados não é apenas uniforme de jogo, é uma extensão da pele.
O presente competitivo e o projeto de Brian Kelly
Após a saída de Ed Orgeron em 2021, LSU fez uma escolha ousada, trouxe Brian Kelly, então técnico de Notre Dame, para liderar a reconstrução do programa.
A aposta era em alguém experiente, com histórico de vitórias e que pudesse dar estabilidade a um programa que, apesar do talento, oscilava demais em performance.
Kelly chegou com uma abordagem diferente, mais disciplinada e orientada a processos. Em sua primeira temporada, venceu o Alabama e levou LSU ao título da SEC West, garantindo uma vaga no SEC Championship Game. Apesar da derrota para Georgia, LSU estava voltando à briga.
Com foco em reforçar a linha ofensiva e desenvolver quarterbacks móveis e inteligentes, o projeto de Kelly visa manter LSU competitivo em uma SEC cada vez mais feroz, agora com a presença de Texas e Oklahoma. A base de fãs exige nada menos que excelência e Kelly sabe disso.
Rivalidades intensas e a aura de imprevisibilidade
LSU tem várias rivalidades importantes, mas nenhuma é tão significativa quanto a com Alabama. Esse confronto se tornou, na última década, um dos jogos mais aguardados da temporada regular da SEC.
É comum que o vencedor dessa partida esteja a caminho do College Football Playoff, o que torna cada encontro ainda mais dramático.
Além disso, os duelos contra Florida, Auburn e Texas A&M são intensos, tanto em campo quanto fora dele. LSU joga como se tivesse algo a provar o tempo todo. Talvez seja essa a essência do programa, a mistura de talento, emoção e uma ponta de rebeldia contra a ordem estabelecida.
O espírito dos Tigers
LSU é o tipo de programa que nunca pode ser subestimado. Mesmo em anos de transição, permanece perigoso. Seu poder de recrutamento é altíssimo, sua base de torcedores é fanática e sua história recente mostra que a excelência está sempre ao alcance.
Mas talvez o maior trunfo dos Tigers seja a sua alma. Poucos programas têm uma conexão tão visceral com sua região, sua cultura e seu povo. E quando esse espírito se conecta com o talento certo, como vimos em 2019, o resultado é pura magia.
No próximo capítulo da série “Conheça os Programas”, vamos explorar a história e as ambições do Florida Gators, uma equipe que já brilhou no cenário nacional e agora busca reencontrar o caminho da glória em meio às mudanças intensas na SEC.