Você é modinha?
- Leandro Giometti
- 22 de mar.
- 3 min de leitura

por Leandro Giometti
Eu sou parte da geração mais antiga a acompanhar a NFL. Não tinha TV a cabo, quiçá internet ainda. A opção: o que passar na TV você assiste. Foi a Bandeirantes meu primeiro acesso ao futebol americano. Em uma tarde de domingo, lá estava Luciano do Vale gritando bruxarias como running back, jardas e touchdown.
Era 1995, final de conferência entre Dallas Cowboys x San Francisco 49ers. Um dos jogos mais legais que já vi sem entender uma caceta do que estava acontecendo (anos mais tarde revi no youtube e é um baita jogo mesmo). Já no finzinho Luciano diz: "O San Francisco vai conseguindo sua revanche quando foi eliminado pelo mesmo Dallas no ano passado". Ali eu falei: "Vou torcer para esse quarentenovers aí. Decidido!". O mais louco é pensar que meu primeiro ano também foi o meu último e o único a comemorar um Superbowl. Que tristeza, senhor Kyle Shanahan. Enfim... esquece isso aí agora. Mas, naquele momento, eu quase não tinha com quem conversar sobre NFL. Então, ninguém me chamou de modinha.
Alguns anos depois fiz bons amigos por causa do futebol americano. Embora muitos da minha idade torcessem pelos Niners - claro, era o time que vinha vencendo entre o final de 80 e o início de 90 - eu tinha também amigos torcedores dos Cowboys, Jets, Packers, Giants, Chiefs, Cowboys e até dos Redskings (um bravo guerreiro melancólico).
Todos os anos nos reuníamos na casa de um para assistir ao Superbowl. E então o armagedon chegou e os Patriots começaram a fazer aquele estrago todo. Com os 70 mil títulos + Tom Brady + Giselle + dinastia, tudo se tornou torcedores do New England contra a rápa. Só porque era muito chato ouvir dos patriotas "nóis é nóis e o resto é bosta", para incomodar e tirar onda, os haters cunharam com muito esmero o termo "MODINHA", seguido do discurso: "Tu nem entende direito do esporte, começou a ver agora... só torce pro New England porque estão ganhando. Tu é um modinha dos infernos".

Exatamente como eu fiz em 1995 ao escolher um time para torcer.
Das provocações eu sou sempre um entusiasta (afinal, esse é o Interceptados!!), mas fica por aí. É como falar que o torcedor do Norte e Nordeste que torce para o Flamengo é modinha. Existe uma explicação razoável que me ajuda a defender (sem vontade nenhuma) esse cabra e eu posso provar. Há muitos anos, por muito tempo - no tempo em que a TV era como eu disse que era no começo desse texto - os jogos do Campeonato Brasileiro transmitidos para ambas as regiões eram basicamente de times do RJ. Inclusive, o próprio Campeonato Carioca tinha ótima audiência por lá. Por isso, o jovem, hoje flamenguista, certamente é filho desse pai que cresceu acompanhando mais ao Flamengo do que o Remo.
E agora, a bola da vez é o Kansas City Chiefs com um combo bem parecido ao daquele Patriots: títulos + Maholmes + Taylor + uma leve dinastiazinha. Uns modinha dos infernos!
Eu mesmo argumentaria contra mim mesmo: "Nada a vê, ow. Existem outras maneiras de escolher times que não apenas em cima de vitórias". E é verdade. O Everaldo Marques mesmo disse que começou a torcer pelo Green Bay Packers porque o uniforme era verde e amarelo e lembrava a seleção brasileira. E o Anthony Curti? Começou a torcer para os Bears em 2006. Ou seja?? Modinha!
Eu confesso que sou muito fã das pessoas que fizeram escolhas aleatórias. E vou lhes dizer aqui alguns argumentos que amo (e juro que são verdade):
O mascote é muito animado
A torcida é a verdadeira dona do time
Já estive naquela cidade e é linda (podia ser eu, mas não foi)
Sou fã demais desse cantor e agora torço pro time dele também
Meu namorado me comprou a jersey
Amo essa combinação de cores
Adoro o nome desse jogador: Vinny Testaverde (eu vou marcar essa pessoa, juro)
Eu gostava de jogar com eles no Madden
Tava ouvindo uma música
A universidade de Virginia Tech começa os jogos com Enter Sandman e por isso eu torço para o time do Michael Vick (Falcons) que veio de lá quando comecei a ver