O Baltimore Ravens está com o radar apontado para o Super Bowl. E a chegada de Jaire Alexander, confirmada no início de junho, é mais do que um simples reforço para a secundária, é uma movimentação simbólica, estratégica e emocional.
Afinal, além de ser um dos cornerbacks mais talentosos (e inconstantes) da liga, Alexander se reencontra com Lamar Jackson, ex-companheiro dos tempos de Louisville. O college os lançou. A NFL agora pode uni-los em busca do título.
De Louisville à NFL: o reencontro de uma parceria improvável
Entre 2015 e 2017, Alexander e Jackson foram protagonistas da Universidade de Louisville. Enquanto Lamar encantava o país com sua criatividade e mobilidade, Jaire liderava a defesa com instinto e agressividade.
Ambos saíram no Draft de 2018: Jackson na escolha 32, pelos Ravens, e Alexander na 18ª, pelos Packers.
Apesar dos caminhos distintos, a amizade entre eles sobreviveu à distância. Em 2024, durante um treino conjunto entre as duas equipes, a química ficou evidente. Jackson chegou a brincar nas redes sociais, pedindo para que “trouxessem Jaire para Baltimore”. Um ano depois, o pedido virou realidade.
Contrato, valores e os bastidores do acordo
O contrato assinado por Alexander segue o modelo clássico de “one-year prove-it deal”, ou seja, um acordo de curto prazo que dá ao jogador a chance de mostrar que ainda pertence à elite da liga.
O valor base gira em torno de US$ 4,5 milhões, podendo chegar a cerca de US$ 6,5 milhões com bônus por desempenho.
A estrutura do contrato inclui cláusulas que protegem os Ravens em caso de nova lesão e garante flexibilidade no salary cap.
Segundo estimativas, o impacto no teto salarial de 2025 será moderado, mantendo espaço para eventuais reforços futuros.
Para um defensor que já foi considerado um dos cinco melhores cornerbacks da NFL, trata-se de uma barganha e de uma oportunidade clara de recomeço.
O que ele entrega em campo (quando saudável)
Jaire Alexander é um jogador dominante quando está em forma. Em seus melhores anos, especialmente entre 2020 e 2021, foi nomeado ao Pro Bowl e liderou a liga em métricas defensivas importantes.
Quarterbacks adversários enfrentando sua marcação registraram um passer rating significativamente abaixo da média da liga. Sua capacidade de leitura, explosão no corte e técnica de cobertura homem-a-homem o tornam um dos cornerbacks mais completos do circuito.
O problema é a durabilidade. Desde 2021, Alexander perdeu 34 jogos, incluindo duas temporadas consecutivas com apenas sete partidas disputadas.
Lesões nos ombros, tornozelos e joelhos minaram sua continuidade em campo e acabaram levando o Green Bay Packers a desistir de apostar no longo prazo.
Por que os Ravens decidiram investir
Baltimore sabe do risco, mas enxerga também a recompensa. A secundária, embora talentosa, sofreu com lesões nos últimos anos.
Marlon Humphrey ainda é o líder do grupo, mas lidou com problemas físicos em 2024. Chidobe Awuzie teve dificuldades para manter regularidade, e o novato Nate Wiggins ainda precisa de tempo para se desenvolver.
Ao trazer Alexander, os Ravens ganham profundidade, experiência e versatilidade. O novo coordenador defensivo, Zach Orr, pode usá-lo tanto como CB2 em marcação externa quanto em coberturas de zona no slot, aproveitando sua leitura de rota e reflexo.
Em uma conferência tão competitiva, é essencial ter peças confiáveis na cobertura.
O fator Lamar: entrosamento fora e dentro de campo
Mais do que reforçar o setor defensivo, a chegada de Jaire Alexander carrega um valor simbólico e psicológico. Lamar Jackson e ele não são apenas ex-colegas de time, são amigos reais, com conexão que começou no vestiário da faculdade e seguiu pela NFL.
Durante o processo de negociação, há relatos de que o próprio Jackson entrou em contato com Alexander, incentivando o acerto com Baltimore. A presença de um líder de vestiário com quem o jogador confia pode ser crucial para reabilitação técnica e emocional.
Além disso, ter um cornerback experiente nos treinos pode ajudar Jackson a se preparar melhor para os desafios da temporada e vice-versa. É uma conexão que fortalece ambos os lados do campo.
Os riscos do negócio e como o time se protegeu
Claro, o investimento em Alexander não é livre de dúvidas. A sequência de lesões recentes levanta questões sobre sua capacidade de se manter disponível em uma campanha completa.
Também existem preocupações extracampo, como a suspensão no fim de 2023, após desrespeitar o protocolo de capitão e fazer a escolha da moeda no cara-ou-coroa sem autorização.
Internamente, os Ravens acreditam que o ambiente da franquia, somado à liderança de Harbaugh e Jackson, pode dar a estrutura emocional que Alexander precisa para retomar o foco.
O contrato de curto prazo, sem compromissos futuros significativos, também permite que o time se reorganize rapidamente caso o retorno não seja o esperado.
Uma aposta com alma
A contratação de Jaire Alexander não é apenas um movimento técnico, é uma tentativa de reativar um talento adormecido com base em confiança, história e familiaridade.
Os Ravens não estão apenas buscando profundidade defensiva, estão construindo uma narrativa. Se Alexander reencontrar sua melhor forma ao lado de Lamar Jackson, Baltimore pode ter um dos elencos mais completos da NFL.
E se ele falhar, a franquia está preparada para seguir em frente sem danos graves. Em um esporte onde química, motivação e trajetória pessoal pesam tanto quanto números, essa reunião entre dois ex-colegas pode render mais do que estatísticas.
Pode render um título ou, no mínimo, um capítulo inesquecível.
Louisville lançou os dois. Baltimore agora dá a chance de terminar a história no maior palco do esporte.
